sábado, 28 de fevereiro de 2009

Desvários.

. Já morri mil vezes, mas continuo invisível. Gritei, berrei, chorei, me mutilei inteira, dei cada pedacinho meu, deixei que arrancasem-me toda a sanidade que um dia posso ter tido. Fui leal, fui honesta, fui a melhor pessoa que alguém poderia desejar. Fui quem me pedissem para ser. Sou o que me pedem para ser. Já tentei tudo que poderia tentar, com meu sangue, com minha alma, com meu coração, com a medicina. Eu me culpo, me culpo, me culpo. Passo horas e horas e horas deitada, tentando que minha corpo se junte com minha mente morta, mas ninguém vê isso, ninguém vê nada. É tudo egoísmo, é tudo auto-preservação, é tudo fundo do poço. DEixar uma criança se vender, matar uma família inteira, matar pela cor, deixar que eu me destruísse dos pés à cabeça, e daí. E daí? Ninguém quer ver nada, as pessoas apenas enxergam. Só querem dinheiro, só querem sua própia paz. Os loucos, os doentes mentais, os pobres, devem ser jogados à margem. Pergunto-me quem é são. Eu sou louca. Meu Deus, eu sou louca? Eu sou louca por ser capaz de dizer a verdade, sou louca por enxergar além do que se vê, sou louca por achar injusto, sou louca por punir-me por erros que não foram meus? Isso me sufoca e, dia após dia, falta-me ar, di a pós dia, só desejo que alguém me veja de verdade. Quem diz que consegue fazê-lo, nunca será capaz de dar-me o que preciso. Ninguém nem nada serão. Porque tudo que vejo é dor, dor, dor. Tudo que vejo são milhares de pessoas robóticas, pessoas que fizeram lavagem cerebral e acham que tudo é normal, que o mundo não está virado de cabeça para baixo.
As "boas pessoas", escondem suas falhas com seus sorrisos falsos e vão, dia após dia, viver a mesma rotina, passar pelas mesmas coisas, mas sem jamais enxergarem nada. Ali tem um bêbado, logo ali tem uma criança cega pedindo esmola e, logo adiante, tem uma mulher morrendo, mas que precisa criar dez filhos sozinha. E daí? Tem-se dinheiro e um sobrenome importante? Ótimo! Porque, atualmente, estes são os únicos sinônimos de caráter que deveriam aparecer nos dicionários.
. E eu escrevo, escrevo, mas continuo dizendo: e daí? e muito triste, não é? mas tenho meus própios problemas, por que perderia meu tempo ajudando-a? São apenas doenças mentais, isso se supera todo dia. E eu só queria nessas horas, do fundo do coração, que essas pessoas sofressem tanto para se cortarem inteiras, sem ver o sangue, sem sentir a dor, sem pensar. Eu só queria que, por um minuto que fosse, elas sentissem o coração rasgar-se de tanta dor e depois ser inundado de vazio e apatia. Só queria que, por um dia que fosse, elas sentissem como é ir à esquina e perder o ar, perder o chão de tanto pânico. Queria que pudessem entender, uma vez só, o que é ser incapaz de sair da cama para beber um copo d'água e ter tanto pânico das pessoas ao ponto de passar fome para não precisar falar com a lanchonete. Você não tem jeito, se é o que quer, vamos deixá-la no quarto para sempre e só entraremos lá para limpá-lo, você precisa agüentar, precisa se esforçar. Acontece que ninguém me dá chance alguma, é pressão de todo lado, cobrança de todo lado, briga de todo lado. Se está bem, está bem. Se está bem, até que está mau. Eu não devo pedir nada, não devo pedir que qualquer pessoa entenda. Sou sempre um caso perdido e profunda demais para qualquer esforço, além do maldito dinheiro, ser válido. Só sei que eu espero que as pessoas tomem a atitude que eu tomaria. Mas jamais vai acontecer. Porque, até entre iguais, sou diferente. Uma aberração, não tire a maldita máscara! Até entre os outros, estou sempre pior, estou sempre igual. Estou sempre pensando, estou sempre querendo ser eu mesma. E, até hoje, ser eu mesma afastou cada pessoa que já tentei algo. Eu devo me esconder, eu devo aceitar a vida que me foi imposta, devo carregar minha maldição. É o que se espera, ninguém pode me ajudar do jeito que eu preciso agora, ninguém. Nunca fui a prioridade, nunca serei, tenho de, como bilhões de rôbos, simplesmente contentar-me com o que preciso ser. Não há escapatória, já tentei ficar por amor e o amor foi-me devolvid, já tentei arrumar amigos, mas nada vai servir, ninguém pode ser minha babá. Simplesmente preciso o que precisei desde a infância e sempre foi-me negado: carinho, amor, preocupação, limites, apoio, suporte, companhia. Mas sou demais, sou um fardo grande demais, um peso que nem o mais forte poderia carregar. E já não agüento carregar-me sozinha...
. Se tirou a máscara, deve pertencer-me para sempre. Você me viu e não há mais volta. Não há mais volta...

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