terça-feira, 21 de abril de 2009

. Escrevi e escrevi, mas hoje estou cansada de ser eu mesma. Ou será que realmente estou morrendo, por fim? Sinto tanta, tanta dor, mas, assim como quando eu era criança e até 2007, não consigo liberá-la; não consigo chorar, não consigo me cortar, não consigo emocionar-me com os filmes e livros mais 'dramáticos' que consegui comprar... Faz tempo que não escrevo desse jeito: como um diário. Sempre tive a necessidade de ser impecável e pontual; nada de reticências e enrolações. Quem sabe, talvez, durante todo este mês - passou-me um mês? Mais? Menos? - eu tenha reaprendido a ficar sozinha. Talvez eu só precise ficar sozinha por mais tempo e tornar-me dura novamente, como sempre custumei ser. Ou isso, ou é o vazio tomando conta, uma vez mais. O tempo passa, mas só sei que ele está passando pelas milhares de pílulas que vão acabando...
E desespero-me com minha situação. Não por estar mal, afinal, sempre estive. Mas pelo limite. Os remédios fazem efeito por uma semana, no máximo dez dias; depois perdem o efeito. Assim, já cheguei ao máximo de milhares deles. Amanhã estarei tomando vinte pílulas, mas e aí? E quando acabarem-se as opções?
Penso que, entre essa maldição que carrego(distimia) e câncer, com certeza eu iria preferir ter câncer. Com câncer sofre-se muito, mas depois vem a morte; alivio. Com esta merda, sofra-se a vida inteira, e além de ser um sofrimento invisível, já que vou indo bem de saúde, também não é um sofrimento recompensado. Nós, amaldiçoados, somos obrigados a procurar a morte e sujar as mãos. Não vejo outro fim. E tenho razão: estou há dezoito anos, e regrido cada vez mais. É um preço grande demais a se pagar. Aposto que cada gênio que já morreu desse mal, amaldiçoava sua inteligência e, nem que fosse às vezes, desejava ser como todas as pessoas, das quais ele sempre custumava desprezar.
Eu não fiz nada. Nunca. Como em "Um Motivo para Viver", as pessoas não querem ver-me, não porque fiz algo ruim, mas simplesmente pelo que sou, pelo que tenho dentro de mim. "Minha mãe diz que nasci do pecado, minha tia diz que falo pelos olhos." Eu também não falo, nunca falei. E nunca fiz nada, além de ser eu mesma. E ser eu mesma é como se fosse uma bruxa, queimada na Inquisição porque as pessoas têm medo do que não conseguem compreender. Simples assim. E pisam nos outros, por medo de enfrentar a si próprias. É pura covardia, eu sei. E só não quero precisar de ninguém. Ninguém, ninguém, ninguém.
Antes eu reprimia tudo; na frente dos outros era uma rocha. Sou a melhor atriz que já conheci, às vezes engano a mim mesmo. E sempre enganei todos, mesmo os que estavam bem na minha frente. Exceto desta vez. Resolvi deixar um pedacinho aberto e, já era: a pessoa mais independente(em questão de afeto, caráter), virou a mais dependente. E acho, acho mesmo, que doa o que doer; quantos cortes eu tiver que fazer; quanto precisarei me dopar, qualquer coisa é melhor do que depender de alguém. Antes, sofria sozinha, mas sofria pelo passado, pelo presente, por ser quem sou. Depois de depender, sofro pelo passado, pelo presente, por ser quem sou; sofro por outra pessoa, sofro o que a outra pessoa me fez e faz, sofro a que a outra pessoa sofreu e sofre, sofro por não agüentar ficar sozinha comigo mesma. Sofro; "o silêncio me machuca por ele diz a verdade".
Quando se depende, a vida da pessoa de se depende passa a não ser só dela; tudo que a pessoa faz afeta diretamente o dependente. E áté que a dependência acabe, sempre vai afetar. Deve-se tomar cuidado antes de entregar-se inteira e dar sua alma e seu coração, pois há o risco de ficar vazia. Como estou agora.

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