terça-feira, 24 de março de 2009

. O pior é que, mesmo completamente deprimida, mal consigo raciocinar. Estou fora de mim. Só de pensar em pegar a lâmina e me cortar, meu corpo todo fica mole. Ou ficar sentada aqui. No entanto, sinto que o momento se aproxima e este blog não está cumprindo sua função. Poucos dias foram tão claros, quase não há mais medo. O alívio toma conta de tudo - posso fechar os olhos e me imaginar como a garota dos frangos, pendurada e morta. Ou pulando, como o aidético. Comprimidos, cortar os pulsos, respirar gás, ter uma overdose, qualquer coisa. Não vem ao caso. O que importa é que me dá paz.

. Paulie: ânsia, que ânsia sufocante que se apodera de mim! Sentir-te, até perder-me em mim; cheirar-te, até que nenhuma outra fragrância se oponha a sua; comer-te, até confundir nossas entranhas; beijar-te, até que roubes o rubor da minha face ensandecida...
Marie: e, depois que o mundo já não for mundo e minha alma já não for minha, estarei perdida entre brancas nuvens serenas ou o queimar lancinante que faz-nos renascer – punição eterna – ou, quem sabe, espectador da própia tragédia. Que dirá então, meio termo? Celas cinza, lisas, enfadonhas, apáticas; onde fica-se surdo dos pensamentos e cego dos sentidos...Quem há de suportar...?
Sophie: ergo-me; caio; ergo-me novamente – presa estou – enclausurada, acorrentada; ferida. Andei pelos três estágios da Morte, passei por cobras com olhos de rubi e águias de ouro. Fiz o que foi-me ordenado e continuo sem a resposta – valerá a pena?
Paulie: o que prende-me aqui? Que vínculos ainda há? E, por quem meu coração ainda clama? Desejo, anseio, grito até perder a voz; nada de decidir-me. O erro, cruel possibilidade, amarra-me, mais e mais. Ai de mim!
Marie: como pode dor tão cruel apoderar-se de mim? Deitar-me-ei.
Sophie: viajei e vi diversos caminhos, interligados e infinitos...Conheci a dor, conversei com a solidão, beijei a angústia; pelo outro lado, abracei o alívio e despedi-me da culpa. Voei por altas montanhas e, vendo a vida por cima, blasfemei Deus. Mergulhei em um rio transparente que, sem nada pedir em troca, curou-me os flagelos; a bondade não se extinguiu por completo. No balanço final, quando o vento perguntou-me se nada havia a perder, emudeci; perdi a voz.
Marie: levante-se, levante-se, ainda há esperanças!
Paulie: deixe-me, vá embora! Perdi-me nas minhas nuances, apaguei-me no meu próprio sangue e, no bombear do meu coração, insensível sou a qualquer minúscula gota de vida. Apunhalar-me-ia, caso houvesse certezas...
Sophie: perdi, por fim, a imaginação e o vazio e a apatia apoderam-se de mim. Nada mais vejo nos meus delírios e, com o último gole, entregar-me-ei ao mistério!
Marie: sim, apenas um gole! Veneno este tão doce que, finalmente, trará a paz.
Paulie: liberto-me! Voarei pelo infinito; livre! Destruindo a mim, destruirei também os incontáveis demônios que fazem-me definhar e, por fim, estarei só!

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